RURÓPOLIS 50 ANOS DE HISTÓRIA

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Fui criada no meio da floresta amazônica. Sou símbolo de um marco importante na memória do Brasil.

Minha história começa ainda antes do meu aniversário! Em meados de 1972, um ambicioso empreendimento de colonização, reforma agrária e criação de cidades ao longo da recém aberta rodovia Transamazônica foi iniciado durante o governo do presidente Médici, como parte de um plano para o desenvolvimento da Amazônia.
Naquela época, centenas de pessoas deixaram seus estados pelo sonho de ter um pedaço de terra para produzir. O incentivo veio do governo, por meio das políticas de colonização dirigidas pelo INCRA e das propagandas federais, que incentivaram a migração com frases de impacto que entraram para a história como ‘Integrar para não entregar’ e ‘homens sem terra para a terra sem homens’.

Um povo pioneiro

Até hoje, os imigrantes que vieram colonizar a Amazônia são chamados de colonos. Esses primeiros habitantes também ficaram conhecidos como pioneiros. Eles vieram de todos os estados brasileiros, principalmente do sul e nordeste. A maioria trouxe a família inteira na esperança de receber um lote para produzir e melhorar de vida. Naquela época também vieram os funcionários públicos e os operários que trabalharam na construção da cidade.

Muitos imigrantes foram cadastrados pelo INCRA e foram trazidos de avião. Aqui receberam um lote e incentivos para produzir, mas a procura foi tão grande, que os cadastros foram interrompidos e muita gente resolveu se aventurar por conta própria. Quem não era cadastrado enfrentava uma viagem demorada e desconfortável em caminhões pau-de-arara. Ao chegar, os imigrantes perceberam que a vida não ia ser fácil. Ainda não haviam estradas de acesso para os lotes e eles começaram a acampar em locais ‘proibidos’, formando a primeira periferia do município, conhecida como Vila da Palha, que ficava onde hoje é a ladeira do bairro Leitoso.

Vila da Palha

Rurópolis foi projetada para ser um centro urbano habitado apenas por funcionários, que dariam suporte para os produtores rurais e a Vila da Palha surgiu para abrigar temporariamente os operários e suas famílias, que atuavam na construção da infraestrutura da cidade. Mas a área começou a ser ocupada também pelos imigrantes que chegavam e não tinham para onde ir. Para evitar que a imagem da cidade planejada fosse manchada pela formação de uma periferia, nove dias antes da visita do Presidente Médici, a Vila da Palha foi despovoada pelo INCRA.

Na ocasião, o órgão disponibilizou carros para levar as famílias para localidades bem distantes, inclusive para a área onde hoje fica a comunidade da Piçarreira. O local onde existia a vila se transformou em uma plantação de arroz.

Uma cidade planejada no meio da Amazônia

Criada no ponto de entroncamento da BRs 163 e 230, Rurópolis foi planejada para ser um centro administrativo para atender as demandas dos produtores rurais que vieram colonizar a Amazônia. A cidade foi construída pelo INCRA com indústrias, armazéns, sedes de instituições públicas e casas padronizadas para os funcionários.

O projeto foi desenvolvido pelo arquiteto e urbanista José Geraldo da Cunha Camargo, que era amigo do presidente Médici. O esquema pretendia dar ao campo os benefícios da cidade, criando três tipos de assentamentos urbanos complementares: agrovilas, agrópolis e rurópolis.

Um conjunto de agrovilas deveria funcionar como satélites de uma agrópolis e cada conjunto de agrópolis e agrovilas seria dependente de uma rurópolis, que acumulava mais funções e mais equipamentos urbanos que os núcleos menores e devia ser o centro principal de uma grande comunidade rural. Essa rede hierarquizada deveria atrair o migrante para o projeto de colonização e dar condições para ele produzir.

Fundação da Rurópolis Presidente Médici

Rurópolis foi fundada em 12 de fevereiro de 1974 pelo próprio general Emílio Garrastazu Médici, o então presidente do Brasil. Foi o primeiro município construído na Transamazônica e a única Rurópolis implantada pelo Programa de Integração Nacional (PIN). Seu nome era Rurópolis Presidente Médici.

As rurópolis seriam os centros principais de grandes comunidades rurais constituídas por agrópolis e agrovilas. Cada rurópolis funcionaria como um centro administrativo e comercial com indústrias, armazéns e sedes de instituições públicas para atender o produtor rural. Já as residências seriam padronizadas e exclusivas para a moradia de funcionários.

A oferta de serviços concentrada nessa rede hierarquizada deveria atrair o migrante para o projeto de colonização patrocinado pelo governo e dar condições para ele produzir nos lotes que eram distribuídos pelo INCRA. Mas o projeto de colonização não saiu como o esperado e Rurópolis ficou sob a administração de Aveiro até 1988, já que antes seu território pertencia àquele município.

Construção de luxo na Amazônia para uma visita ilustre

Dois anos antes da fundação de Rurópolis, em 1972, iniciou a construção do seu maior e mais luxuoso prédio histórico, o hotel Presidente Médici. A estrutura foi criada para receber por um dia o próprio presidente Médici e o seu sucessor, o general Ernesto Geisel.

As instalações de luxo eram completamente fora dos padrões para a época, com duas suítes presidenciais de 120 m, 24 apartamentos e mais quatro suítes não presidenciais, piscina aquecida, obras de arte, talheres luxuosos e prataria importada.

Logo depois de sua construção, o hotel se transformou em um ponto turístico visitado por personalidades importantes e estrangeiros do mundo inteiro.

Comércio e cotidiano

Antes da inauguração de Rurópolis, quase não havia lojas e mercados por aqui. O centro comercial foi construído pelo INCRA na véspera da visita do presidente e as lojinhas de madeira foram entregues para os moradores que manifestaram interesse, mas quase não havia mercadorias.

A COBAL (que funcionava onde hoje é a Câmara Municipal) era o principal mercado, mas a população costumava fazer compras em Itaituba, já que os salários eram pagos naquela cidade. Aos poucos foram surgindo a farmácia, açougue, padaria e os primeiros mercadinhos.

Também há relatos de que havia uma padaria e um bar improvisados na Vila da Palha, apesar do consumo de bebida alcoólica ser proibido em Rurópolis naquela época.

Como ainda não existia a pecuária por aqui, era praticamente impossível encontrar carne de gado ou porco e os colonos caçavam na mata para se alimentar. Mas nem todos conseguiam comer carne porque o risco de se perder na floresta ou ser atacado por onça e outros animais era grande.

Centro Ecumênico

A primeira igreja de Rurópolis foi construída pelo INCRA na véspera da inauguração da cidade e até hoje o prédio histórico ainda existe. Ele fica na atual sede da rádio comunitária e sua arquitetura chama a atenção.

Como era o único templo religioso da cidade, aos domingos eram realizadas missas católicas e em outros dias da semana eram feitas celebrações de outras religiões.

O espaço era muito frequentado pelos pioneiros de Rurópolis e foi usado para celebrações de casamentos, batizados e outros eventos religiosos.

Placa Inaugural e Praça Cívica

Rurópolis foi fundada pelo próprio Presidente Médici, que visitou vários pontos da cidade recém construída. A limusine presidencial foi trazida de avião. A placa inaugural original é feita de bronze e continua até hoje na Praça Cívica, preservando essa importante parte da memória da cidade.

De acordo com historiadores, o monumento das bandeiras foi montado naquela época para que um representante de cada estado brasileiro participasse da cerimônia de hasteamento. Naquele dia todos os colonos, operários e funcionários do INCRA foram convidados e aconteceu uma missa, apresentações culturais e uma churrascada.

Em 2006 a praça Cívica foi ampliada e reformada. As obras permitiram a volta da tradição do hasteamento no monumento das bandeiras. E em 2023 a praça passou novamente por reforma e ganhou uma praça de alimentação.

Monumento das Bandeiras

O monumento das bandeiras foi criado para homenagear os imigrantes que vieram de todos os estados brasileiros para colonizar a Amazônia.

Em 1974, durante a inauguração da Rurópolis Presidente Médici, aconteceu a primeira cerimônia de hasteamento com a participação do próprio presidente da República. Naquele dia histórico, cada bandeira foi hasteada por um representante do seu Estado de origem.

O monumento é um dos maiores símbolos da diversidade e da coragem do povo ruropolense, que deixou sua terra natal para construir um novo lar no coração da floresta amazônica.

Em 2006, com a reforma da Praça Cívica, o monumento foi reconstruído e a bandeira da cidade (criada em 1989) foi adicionada, ao lado da bandeira do Brasil.

Um dia de muitas inaugurações

No mesmo dia da fundação de Rurópolis foram inaugurados vários órgãos e instituições públicas.

Em 12 de fevereiro de 1974, depois de fazer um discurso para os colonos, o Presidente foi a pé até a sede do Banco da Amazônia e o inaugurou oficialmente. Em seguida ele visitou a Fundação Sesp, onde até hoje fica o hospital.

Naquele dia histórico, Emílio Garrastazu Médici percorreu as ruas da cidade de limosine e visitou o Centro de Artesanato (que ficava no prédio onde hoje funciona a Prefeitura).

Ele também conheceu a COBAL, a Serraria, a Cibrazem, a Emater, a primeira escolinha do município e algumas residências de colonos, que foram construídas pelo INCRA.

O nosso povo

Os colonos vieram de todas as regiões brasileiras e aqui criaram suas famílias. Na imagem aparece a família Fröhlich em 1974 e 1978.

Quando o casal Ivone e Lino vieram do Rio Grande do Sul, eles ainda não sabiam, mas já estavam esperando a primeira filha, Carla, que foi um dos primeiros bebês a nascer na Fundação Sesp de Rurópolis.

Depois os colonos tiveram mais três filhos e, assim como eles, nasceram os primeiros cidadãos ruropolenses, formando uma cidade rica em diversidade cultural e características físicas

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